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À CPI, ex-gerente da refinaria de Abreu e Lima nega ter recebido propina
31/03/2015Em depoimento à CPI da Petrobras da Câmara dos Deputados, o ex-gerente-geral da refinaria de Abreu e Lima (PE) Glauco Legatti negou nesta terça-feira (31) ter recebido propina do esquema de corrupção que atuava na estatal. À Justiça, o engenheiro Shinko Nakandakari, apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) como operador da construtora Galvão Engenharia, afirmou ter pago R$ 400 mil a Legatti.
Não é verdade o que o senhor Shinko falou. Eu não recebi um centavo do senhor Shinko, ressaltou o ex-gerente da refinaria aos integrantes da CPI.
Segundo Nakandakari, os pagamentos a Legatti continuaram em 2014, mesmo após a deflagração da Operação Lava-Jato, em março do ano passado. Legatti foi afastado das funções de gerente-geral em novembro, depois da sétima fase da Lava Jato.
O ex-gerente já foi ouvido pela CPI da Petrobras exclusiva do Senado, em julho do ano passado, quando afirmou que não houve erro de projeto ou superfaturamento na obra da refinaria em Pernambuco.
Suspeita de superfaturamento pelo Tribunal de Contas da União, a planta de refino é um dos alvos de investigação da CPI.
Em construção na cidade de Ipojuca, a planta foi anunciada em 2005 com custo estimado em cerca de US$ 2,4 bilhões. As obras atrasaram, e a previsão para operação em plena carga passou de 2011 para 2014. Nove anos após o início das obras, a projeção de custo saltou para cerca de US$ 18,5 bilhões, segundo previsão da Petrobras.
Orientado por sua defesa, Legatti disse que ainda não tomou nenhuma ação contra Shinko, mas que enviou petição ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos inquéritos da Operação Lava Jato, para esclarecer a acusação contra ele.
Eu não tomei nenhuma ação mais direta contra o Shinko tendo em vista que uma ação para contestar essa fala não seria conveniente neste momento, disse Legatti. Entrei com uma petição para esclarecer de viva-voz para o juiz Sérgio Moro.
Bate-boca
A sessão que ouviu o depoimento de Glauco Legatti ficou tensa logo após a primeira resposta do ex-gerente da Petrobras. Ao negar o recebimento de propina, Legatti disse que, ao longo da sessão, teria chance de explicar sua relação com Shinko Nakandakari, na medida em que o relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), formulasse suas questões.
Neste momento, os deputados oposicionistas Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Izalci (PSDB-DF) questionaram se o antigo executivo da petroleira havia tido acesso prévio às perguntas que seriam feitas pelo relator ou se teria sido treinado pela Petrobras para prestar o depoimento.
O comentário gerou um bate-boca entre os parlamentares. O relator da comissão rebateu dizendo que não aceitava insinuações e que não iria vestir a carapuça.
Izalci, então, justificou o questionamento com a alegação de que havia precedentes de repasse das questões formuladas por relatores às testemunhas. O deputado tucano se referia à polêmica gerada no ano passado na CPI da Petrobras exclusiva do Senado. Na ocasião, a imprensa revelou que perguntas elaboradas em sessões do colegiado haviam sido combinadas previamente com depoentes ligados à Petrobras.
Diante do comentário de Izalci, parlamentares petistas saíram em defesa do relator. Exaltado, o deputado Delegado Waldir (PSDB-GO) pediu a continuidade dos trabalhos e foi confrontado pelo deputado Luiz Couto (PT-PB), que respondeu que a CPI não era delegacia. Waldir, então, rebateu: Se aqui fosse delegacia, o senhor já estaria preso, enfatizou.
Contratações na Petrobras
Em meio à sessão, Glauco Legatti explicou os procedimentos para efetuar contratações na Petrobras. Ele negou que tivesse conhecimento de alguma irregularidade nos contratos da petroleira. Segundo o ex-gerente, os processos da estatal eram bastante rígidos.
Legatti também falou sobre seu afastamento da gerência-geral da refinaria de Abreu e Lima. De acordo com ele, a Petrobras o afastou do cargo em razão das conclusões do relatório da comissão interna criada para apurar as denúncias da Lava Jato.
O executivo, entretanto, disse que o parecer não apontou desvios da sua conduta, mas apenas questões formais em alguns procedimentos. Ele destacou que não é réu em nenhum processo na Justiça e que nunca respondeu a processo disciplinar dentro da estatal.
O relator da CPI também questionou Legatti sobre o decreto editado em 1998 pelo governo Fernando Henrique Cardozo que permitiu que a Petrobras contratasse fornecedoras por meio de carta-convite, em vez de realizar licitações. Luiz Sérgio quis saber se a mudança no modelo de contratações poderia ter estimulado a corrupção na empresa.
O ex-gerente negou que o modelo de carta-convites possa ser responsável pelos atos de corrupção que foram identificados na estatal do petróleo. Não é o decreto que vai facilitar fraude, observou Legatti, acrescentando que as empresas que participavam do certame não são aventureiras.
Fonte: G1
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